Mulheres recebem 22,3% menos que os homens no mercado de trabalho

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Em boletim especial, Dieese revela ainda que elas seguem como maioria entre desempregados

As mulheres no mercado de trabalho seguem com os menores salários, maiores dificuldades de crescimento profissional, além de maioria entre os desempregados. A conclusão é do boletim especial divulgado nesta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em contribuição às atividades para o Dia Internacional da Mulher, 8 de março.

O rendimento médio das mulheres (R$ 2.562), registrado no último trimestre de 2023, foi 22,3% menor do que o recebido pelos homens (R$ 3.323). Do total de mulheres ocupadas no país, 39,9% recebiam até um salário-mínimo. Entre as negras, praticamente metade (49,4%) ganhavam até um salário-mínimo, contra 29,1% entre as não negras. Já entre os homens, 29,8% ganhavam até um salário-mínimo.

A diferença salarial entre homens e mulheres observada foi mais aprofundada com o aumento do grau de escolaridade. Entre as pessoas que terminaram o ensino superior, mulheres ganhavam em média 35,5% (R$ 4.701) do que os homens (R$ 7.283).

O preconceito e desigualdade entre homens e mulheres se repetiu nos cargos de liderança: quatro a cada 10 pessoas (39,6%) ocupadas como diretoras ou gerentes, no 4º trimestre de 2023, eram mulheres. O salário médio delas foi 29,5% (R$ 5.900) menor ao recebido pelos homens que ocupavam a mesma função (R$ 8.363).

A secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes, avalia que esse cenário reflete “o preconceito estrutural”, ou seja, enraizado, de que a mulher não pode comandar. “Essa questão, somada à dupla jornada (o dever imposto socialmente à mulher de conciliar trabalhos domésticos e do dia a dia remunerado fora de casa) explicam a razão de haver tamanha desigualdade entre homens e mulheres em cargos de liderança”, pontuou.

Emprego e desemprego

A boa notícia é que, com o crescimento da economia brasileira em 2023 (PIB entre 2,5% e 3%), houve melhora nos dados gerais de emprego e renda, que atingiram positivamente as mulheres. Entre o 4º trimestre de 2022 e 4º trimestre de 2023, houve aumento de 358 mil mulheres e de 26 mil homens na força de trabalho.

No mesmo período, o país registrou queda na taxa de desocupação em ambos os sexos. Entre elas, a não participação no mercado de trabalho passou de 9,8% para 9,2% (que corresponde à saída de 271 mil do contingente de desocupados). Enquanto entre os homens a taxa de desocupação passou de 6,5% para 6,0% (menos 219 mil desocupados).

Na perspectiva da ocupação, a taxa de crescimento entre as mulheres foi de 1,65% (aumento de 705 mil no mercado de trabalho). A ocupação das mulheres negras cresceu 2,5% (565 mil novas ocupadas) e a de não negras 0,7% (+140 mil). Já a masculina cresceu 1,60% (o equivalente a 910 mil homens a mais na população ocupada).

Apesar da melhora, o Dieese destaca no relatório que enquanto a participação dos homens voltou a nível anterior à crise sanitária, a das mulheres ainda não. “Durante a pandemia, algumas mulheres assumiram tarefas adicionais nos domicílios (como o cuidado de outras pessoas). Outras perderam postos de trabalho em atividades mais afetadas pela crise (comércio, restaurantes e serviços) e, mesmo com a retomada da economia, muitas ainda não conseguiram se recolocar”, explica a entidade.

Em relação aos desempregados, no último trimestre de 2023, o país registrou 66,286 milhões nessas condições, desse total, 42,839 milhões (ou 64,6%) eram mulheres. Entre as mulheres negras, as mais afetadas pelo desemprego, a taxa de desocupação caiu de 12% para 11,1% (o que corresponde a 2,865 milhões).

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Subocupação

O Dieese aponta também que, do total de mulheres ocupadas, a proporção de subocupadas, ou seja, que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais, foi superior à dos homens: 6,2% delas estavam nessa condição, no 4º trimestre de 2023, enquanto, entre os homens, o percentual foi de 4,2%.

Quando se analisa essa informação por cor/raça, o quadro é ainda pior: o percentual de trabalhadoras negras subocupadas foi de 7,3%, contra 4,8% entre as não negras. “A fragilidade da inserção da mulher negra, mais uma vez, aparece quando se entende que elas trabalham menos do que gostariam e precisam, com jornadas e salários menores”, observa o Dieese.

Informalidade e precarização

A população negra seguiu compondo a maioria dos trabalhadores na informalidade (pessoas que realizam atividades sem vínculos empregatícios ou registros formais): corresponde a 41,0% das trabalhadoras e 43,2% dos trabalhadores, encontrados nessa condição no 4º trimestre de 2023.

No mesmo período, entre os não negros, a proporção de mulheres na informalidade foi 30,8% e a de homens 32,5%.

“A informalidade tem efeito sobre a qualidade do trabalho, interfere no acesso aos direitos trabalhistas e nos rendimentos dos trabalhadores”, alerta o Dieese.

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Ao dividir o total de trabalhadores em cinco grupos de rendimento, a entidade observa ainda que os trabalhadores na informalidade estão mais presentes nas partes com os menores rendimentos.

Os valores dos rendimentos de corte por quintil foram de R$ 1.216 para o 1º quintil; R$ 1.500 para o 2º; R$ 2.000 para o 3º quintil, e R$ 3.500 para o 4º quintil.

“Ser informal, para uma parcela grande de trabalhadores, significa receber baixo salário e não ter proteção da legislação”, explica o Dieese. No 1º quintil, nove em cada 10 ocupadas (88,0%) estavam na informalidade. No último quintil, ou seja, entre os que recebem mais, a taxa de informalidade foi de 12,3% para negras e de 15,5% para as não negras.

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No recorte só com mulheres, observou-se que as ocupações tipicamente informais estão concentradas nos quintis mais baixos: trabalhadoras domésticas sem carteira (66,4% no 1º quintil), conta própria (44,0% no 1º quintil) e empregadas sem carteira no setor privado (40,7% no 1º quintil). Já nas posições formais (empregados com carteira no setor público ou privado e militares e estatutários), há uma concentração nos quintis mais ricos. O Dieese revelou ainda que o 1º quintil de rendimento do trabalho é composto, majoritariamente, por mulheres negras, sem proteção legal.

 

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