Levantamento mensal é realizado pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Os seis primeiros meses de 2020 tiveram um aumento no número de mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil, ao se comparar com o mesmo período do ano passado. De acordo com levantamento do ‘Monitor da Violência’, as principais vítimas de feminicídio são mulheres negras.
Nos primeiros seis meses de 2020, 1.890 mulheres foram mortas de forma violenta, boa parte em plena pandemia do novo coronavírus – um aumento de 2% em relação ao mesmo período de 2019. Segundo o levantamento, 631 desses crimes foram de ódio motivados pela condição de gênero, ou seja, feminicídio.
A iniciativa apresenta dados mensais e é realizada pelo portal G1 em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No Brasil, cada estado tem sua forma de coletar, sistematizar e divulgar os dados relacionados à segurança pública e à violência.
Neste mês, foram divulgados os dados analisados das secretarias competentes dos 26 estados e do Distrito Federal sobre a violência contra mulher, letal e não letal.
“Os dados mostram que houve um aumento no feminicídio em 2020, comparado aos seis primeiros meses do ano passado. Eles também mostram que há uma reprodução nas formas de desigualdades que já acometem a vida das mulheres, 73% das vítimas de homicídio são mulheres negras”, afirmou a pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), Giane Silvestre, em entrevista à repórter Larrisa Bohrer, da Rádio Brasil Atual.
Racismo
Outro dado que chama a atenção é uma queda generalizada nos registros de estupros. Dos 27 estados do Brasil, 24 tiveram redução. De acordo com a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Isabela Sobral, embora este número pareça positivo, ele evidencia a subnotificação dos casos e as dificuldades encontradas pelas mulheres para denunciar, ainda mais durante o período de isolamento.
“Nesse primeiro semestre de 2020, observamos uma queda nos registros que exigem o comparecimento da mulher. Os registros de lesão corporal dolosa caíram em 11%, já os de estupro se reduziram em 20%. Isso aponta que as mulheres podem ter mais dificuldade de ir à delegacia denunciar a violência durante a pandemia, o que provoca o aumento de feminicídios.”
Giane Silvestre comenta que esses dados atestam a correlação entre a violência contra a mulher e o racismo. “A gente observa que há uma desigualdade racial no perfil das vítimas de forma gritante. Quando analisamos os dados de comunicação de estupro ou agressão, o percentual de brancas aumenta. Isso significa, na verdade, que as mulheres brancas têm mais acesso aos canais de denúncia do que as negras.”
Fonte: Cut