Banco está demitindo no Vila SP e iniciou operação com terceirizados no RS. Sindicato cobra transparência e negociação há semanas, mas sem resposta; e não descarta ações mais enérgicas
O Santander vem há meses alterando as funções e o trabalho em diversas áreas do call center, em meio à pandemia. Aos poucos, promove mudanças estruturais tanto no Vila Santander, em São Paulo, quanto no call center do Rio de Janeiro. Além disso, já foi noticiado que o banco implementará uma mega operação terceirizada de call center em Novo Hamburgo (RS). Essa operação já iniciou e conta, no momento, com 150 trabalhadores terceirizados.
O Sindicato de Bancários de São Paulo, Osasco e Região está recebendo, diariamente, denúncias de demissões no Vila Santander, que são feitas por telefone ou com convocações para que os bancários compareçam à Bráulio para trocar seus notebooks, sendo surpreendidos com a demissão quando chegam. O Sindicato apurou que no Rio as demissões também são constantes. Aos poucos, os rumores de que haveria milhares de desligamentos no setor vem sendo confirmadas.
Os trabalhadores do Vila Santander que já retornaram ao trabalho presencial estão sendo alocados em outros prédios: há áreas funcionando no Radar, na Bráulio Gomes e na Álvares Penteado. O prédio do Vila SP, no bairro do Limão, está às moscas.
“A apreensão dos trabalhadores é enorme e com toda razão. O banco não tem nenhuma transparência nos seus processos. Decide e implementa mudanças deixando os funcionários sem qualquer alternativa ou tempo para se planejar. Um desrespeito e uma forma cruel de gestão”, critica a diretora do Sindicato, Lucimara Malaquias, bancária do Santander.
Lucimara destaca que o Sindicato está há semanas pedindo negociação e o banco protela e não marca a data. “Isso demonstrando uma completa indiferença pelo emprego de mais de 3 mil pessoas, pais e mães de família que se dedicam e se esforçam muito para atender da melhor forma milhares de clientes diariamente. Muitos nem conseguiram trabalhar em home office durante a pandemia, arriscando sua saúde para garantir o atendimento deste banco que trata com negligência suas vidas e seus empregos.”
A dirigente lembra que a negociação coletiva é direito de todos os trabalhadores e é dever do Santander. “Queremos transparência e informações sobre o projeto em andamento. Também queremos a manutenção dos empregos desses trabalhadores que operam em SP e no RJ, que têm qualificação e conhecimento para serem alocados em outras áreas do banco. Nas agências, por exemplo, faltam funcionários e muito estão sobrecarregados e adoecendo. Falta pessoal também na gerência digital, onde cada gerente chega a atender mais de mil contas digitais, uma situação insustentável, que afeta inclusive a qualidade do serviço que o Santander presta aos clientes”, denuncia.
Ao mesmo tempo em que promove desemprego e grandes mudanças sem transparência, destaca Lucimara, a alta direção do Santander cita “cultura organizacional” em seu discurso. “Fala de ‘cultura organizacional’, mas a conta gotas vai terceirizando uma operação que é responsável pelo contato direto com clientes. Baixando radicalmente custos, cortando empregos e direitos de forma contundente, sem avaliar o impacto disso no nível de qualidade do serviço”, alerta a dirigente.
Lucimara lembra que a diferença de salários entre um bancário, que tem direitos assegurados por uma Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) nacional e por sindicatos fortes, e um atendente terceirizado é gigante.
Aos trabalhadores em home office
A dirigente orienta os bancários que estão em home office que fiquem muito atentos e não se isolem. “Mantenham contato digital com seus colegas e também com o Sindicato. Façam grupos de Whatsapp, compartilhem as informações, participem das mobilizações propostas pelo Sindicato. O banco não nos deixa alternativas a não ser a luta coletiva na defesa do emprego e da dignidade. Não descartamos uma paralisação na operação remota do Santander com os funcionários que estão em home office”, diz.
“Esta luta é de todos os trabalhadores e apenas juntos e mobilizados conseguiremos garantir nossos empregos e nossos direitos”, acrescenta.
Terceirização é precarização
O Sindicato implementou durante décadas uma luta árdua contra a terceirização. Sempre vigilante, conseguiu por anos impedir a aprovação de projetos de lei que previam a terceirização irrestrita, até mesmo em serviços considerados essenciais nas empresas.
Mesmo assim, a terceirização foi aprovada em 2017, com a falácia de que geraria empregos, mas só gerou empregos precários. “O terceirizado não têm os mesmos direitos dos bancários, não conta com a organização sindical forte que têm os bancários, e ganham muito menos. Terceirizar representa substituir empregos dignos por empregos precários, o que aumenta exponencialmente a pobreza e a desigualdade social, ou seja, é ruim para o país. Por isso, nessa época de eleições, é fundamental que os bancários fiquem bem atentos aos discursos de candidatos que são aliados de maus empresários, que pregam o melhor para a cidade e o país, mas na verdade se elegem com a missão de defender os interesses de poucos, sem nenhum compromisso com o trabalhador ou com a sociedade”, alerta a dirigente.