Bolsonaro exalta a Caixa, mas a troca por bananas
A Caixa Econômica Federal divulgou na quarta-feira (12) seu balanço referente ao primeiro trimestre de 2021. Em cerimônia de entrega de 500 unidades habitacionais em Alagoas, o presidente Jair Bolsonaro exaltou os resultados obtidos pelo banco.
“A Caixa, lá atrás, dava prejuízo. Em nosso governo, mais que lucro, ela traz benefícios para todos nós do Brasil”, disse Bolsonaro.
Para a coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Fabiana Uehara Proscholdt, que também é secretária de Cultura da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), a fala de Bolsonaro comprova seu desconhecimento econômico. “Em diversas ocasiões ele disse que não entende nada de economia. Por isso, não podemos nos espantar com esse erro grotesco”, afirmou. “Ainda mais que ele, com toda sua ignorância econômica, é influenciado por declarações do presidente da Caixa (Pedro Guimarães), que espalha informações incorretas para exaltar sua própria gestão”, completou a dirigente da Contraf-CUT se referindo às comparações que Pedro Guimarães faz entre o lucro obtido pela Caixa atualmente com os obtidos durante o governo Lula.
Pedro Guimarães vem afirmando que o lucro da gestão dele em dois anos é maior do que o obtido pelo banco nos oito anos do governo Lula. “Ele compara os valores absolutos do lucro nominal, sem trazer os números a valor presente. Fazer a comparação desta forma é, no mínimo, má fé. Porém, em se tratando do governo da fake-news, podemos acreditar que é mais uma tentativa de enganar o povo”, ressaltou Fabiana.
Sem a atualização, o lucro da Caixa durante o governo Lula foi de R$ 20,5 bilhões com a atualização chega aos R$ 41,4 bilhões. No governo Bolsonaro, a Caixa faturou R$ 35,2 bilhões. Os valores foram atualizados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O papel do banco público
Mas, para a representante dos empregados da Caixa no Conselho de Administração do banco, Rita Serrano, a comparação meramente financeira não é a mais adequada. Para ela, é importante observar o retorno dado pelo banco à sociedade. “O foco tem que ser o investimento. É muito pobre fazer uma análise meramente financeira sem se observar o papel que um banco público deve ter, que é contribuir com o desenvolvimento do país”, disse. “Além disso, não podemos nos esquecer o que se fez para alcançar o resultado”, completou.
O resultado de 2019 foi fortemente influenciado pela venda de Notas do Tesouro Nacional (NTN-B) e com a venda de ações da Petrobras. Dos R$ 21 bilhões que a Caixa obteve de lucro em 2019, aproximadamente R$ 15 bilhões foi resultado de vendas de ativos, como as ações da Petrobrás, do IRB e do Banco Pan.
Em 2020, dos R$ 13,2 bilhões do lucro líquido, R$ 5,9 bilhões foi resultado de equivalência patrimonial da Caixa Seguridade, provenientes de novas parcerias com empresas privadas.
“Ele vende as áreas mais lucrativas do banco, infla os resultados, mas depois o banco não consegue mais operar, não consegue cumprir sua função de fomentar o desenvolvimento do país e tampouco de executar os programas sociais do governo”, observou a coordenadora da CEE/Caixa. “E ainda quer que a gente acredite que ele é um bom gestor”, completou.
Figurinha repetida
Fabiana lembrou, ainda, que a venda de parte das ações da BB Seguridade em 2013, por R$ 11,5 bilhões, foi lamentada, em mais de uma ocasião, por Paulo Caffarelli, que presidiu o banco de maio de 2016 até o fim de 2018. “A gente sente falta da receita recorrente da BB Seguridade”, disse Caffarelli em entrevista à imprensa.
No caminho inverso, quando se especulou sobre uma possível venda do Santander Brasil, quando o banco Espanhol enfrentou problemas com a crise de 2008, o banco não cogitou vender quem era responsável por cerca de 30% do seu lucro anual.
“O ‘mercado’ quer que os bancos públicos se desfaçam de seus ativos, de suas fontes de receita, mas eles mesmos as mantêm para conseguir sair do buraco”, observou a coordenadora da CEE.
Fonte: Contraf-Cut