No Bradesco PDDs atingiram alta de 155% no segundo trimestre. No Santander, queda no lucro viraria crescimento de 8,8% sem a elevação do crédito que prevê calotes
Os bancos privados têm divulgado uma queda considerável nos números oficiais de seus lucros alegando efeitos da crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus. Entretanto, uma análise mais apurada revela que os resultados não foram ruins. É que as instituições financeiras estão superdimensionando as chamadas Previsões de Devedores Duvidosos (PDDs), em que parte considerável dos ganhos é transferida para os bancos se resguardarem de um possível crescimento na inadimplência.
É o caso do Bradesco, que reforçou o volume de suas provisões R$ 8,89 bilhões no segundo trimestre, uma alta de 155% em relação ao mesmo período do ano passado e de 32,5% frente o primeiro trimestre de 2020. Com esta transferência, o segundo maior banco privado do país anunciou nos primeiros seis meses deste ano uma queda de 40,1% do lucro recorrente no segundo trimestre de 2020 na comparação anual, totalizando R$ 3,873 bilhões.
Crescimento vira queda
Já o Santander fez uma reserva de R$ 10,4 bi para cobrir possíveis calotes que reduziu o lucro de R$ 7,749 bilhões para R$ 5,989 bilhões. Sem a PDD, a queda passaria a ser computada como crescimento de 8,8% do lucro no período. Mesmo com a queda nos resultados oficiais, o lucro do banco no país representa 32% de todo seu faturamento mundial e, mesmo assim, o grupo espanhol reduziu 844 postos de trabalho no Brasil em plena pandemia.
“É preciso muita atenção nos números que estão sendo divulgados pelos bancos. É evidente que a inadimplência continuará subindo em função dos efeitos da crise sanitária e do aprofundamento da política econômica recessiva do Ministro da Economia Paulo Guedes que, aliás, é apoiada integralmente pelos banqueiros. Porém, os números dos resultados estão sendo impactados para baixo por causa da elevação drástica das provisões. Além disso, o setor que mais fatura no país há 40 anos continua sendo o mais lucrativo mesmo com a recessão e não tem do que reclamar”, afirma Almir Alguiar, dirigente sindical do Sindicato e da Contraf-CUT.
O sindicalista lembra ainda que o Governo Bolsonaro tomou medidas que privilegiam o sistema financeiro em detrimento da falência no setor produtivo, como industrias, comércios e serviços. Através do Banco Central, o governo garantiu R$1,2 trilhão aos bancos, além da compra, com dinheiro público, de “títulos podres” que deram prejuízos às instituições privadas do mercado financeiro e reduzir o imposto sobre os lucros do setor.
“Para completar, Paulo Guedes anuncia uma reforma tributária que reduz ainda mais o imposto pago pelos bancos e eleva a carga tributária de vários setores como turismo e serviços, recaindo ainda mais sobre o consumo. Ou seja, em vez de promover uma tributação progressiva, como ocorre em todos os países desenvolvidos, onde paga mais quem ganha mais, o governo continua penalizando os mais pobres e a classe média”, completa Almir.
Fonte: SindBancários do Rio de Janeiro