Centrais manterão pressão sobre parlamentares para defender direitos da classe trabalhadora
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Roberto von der Osten, disse que as centrais sindicais e movimentos sociais vão manter a marcha à Brasília, na próxima quarta-feira (24), mesmo após o anúncio da suspensão dos trabalhos no Congresso Nacional de análise dos projetos de reformas trabalhista e da Previdência.
“A suspensão da tramitação dos projetos pode nos dar mais tempo para debater e mostrar que ambas as propostas são muito prejudiciais para a classe trabalhadora, mas temos que ficar alertas. Os empresários querem a aprovação destes projetos e vão insistir nisso. Não podemos nos esquecer que a maior parte dos congressistas tiveram suas campanhas financiadas pelo empresariado”, disse von der Osten.
Os relatores dos projetos de reforma trabalhista e da Previdência, que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado, respectivamente, decidiram suspender o andamento das atividades em decorrência das gravações apresentadas por Joesley Batista, um dos sócios da JBS, nas quais o presidente Michel Temer é comunicado sobre o pagamento de “mesada” ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e ao doleiro Lúcio Bolonha Funaro, tido como um dos operadores do PMDB no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
O senador tucano Ricardo Ferraço (ES), responsável pela execução do relatório da reforma trabalhista nas comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, usou as redes sociais para anunciar interrupção da tramitação do PLC 38/2017, aprovado na Câmara como PL 6787/2016.
“Amigos, diante da gravidade do momento que vive o país, o bom senso determina que é necessário priorizar a solução da crise institucional, para depois darmos desdobramento ao debate relacionado à reforma trabalhista. Portanto, na condição de relator do projeto, anuncio que o calendário de discussões está suspenso. Não há como desconhecer um tema complexo como o trazido por essa crise”, disse Ferraço.
O relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287 – reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), também utilizou o “cenário crítico de incertezas” como justificativa para a suspensão da discussão do projeto. Segundo ele, somente depois que os fatos que envolvem o presidente Michel Temer forem esclarecidos haverá condições para retomar a análise do texto.
“De ontem para cá, a partir das denúncias que surgiram contra o presidente da República, passamos a viver um cenário crítico, de incertezas e forte ameaça da perda das conquistas alcançadas com tanto esforço”, disse o deputado em nota divulgada à imprensa.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, avaliou que a suspensão dos trabalhos abre possibilidades para debates com os trabalhadores e os movimentos sindicais.
No caso da reforma trabalhista, “a proposta das centrais sindicais é que o processo seja retirado, interrompido e se faça um debate conjunto entre os trabalhadores, empregadores, o Congresso e a Justiça para que a reforma trabalhista e sindical faça parte de um conjunto de mudanças que promovam de fato a valorização da negociação, o fortalecimento dos sindicatos, a solução dos conflitos e todos os princípios que muitos defendem e propõem como necessários para o avanço das relações de trabalho no Brasil”, explicou o técnico do Dieese.
Já no caso da reforma da Previdência, “a proposta das centrais sindicais é de que o projeto seja bastante alterado, principalmente com a inclusão e prioridade no debate de como será o financiamento da Previdência Social e nas mudanças fundamentais na gestão em relação a revisão das isenções e no sistema de cobrança, para que não tenhamos evasão e inadimplência que hoje é muito elevada”, disse.
Fonte: Contraf-CUT